segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A religião


          A religião grega era politeísta e antropomórfica, pois os Gregos adoravam vários deuses, que imaginavam semelhantes aos seres humanos, tanto no aspeto físico, como nas qualidades e defeitos.
         Distinguiam-se dos humanos pela imortalidade e poderes sobrenaturais, como a invisibilidade e a metamorfose (capacidade de adquirir várias formas).

         Entre os homens e os deuses estavam os heróis, considerados semideuses por qualidades e feitos excecionais. Hércules, Aquiles, Ulisses, Teseu e Édipo são os heróis mais conhecidos da mitologia grega.

         A prática religiosa era considerada um dever cívico, bem presente na vida quotidiana dos Gregos com diferentes cultos aos deuses:

o culto familiar, celebrado em casa em altares domésticos, dedicado aos antepassados e aos deuses protetores do lar;

o culto cívico, realizado em todas as cidades em honra dos deuses e heróis protetores da polis;

o culto pan-helénico, praticado em grandes santuários em honra de um deus.

         Os mais conhecidos eram o santuário de Delfos - em homenagem a Apolo - e o santuário de Olímpia, em honra de Zeus - que atraíam peregrinos de todo o mundo helénico devido ao prestígio dos seus oráculos.

         Periodicamente, realizavam atividades culturais, como teatro e competições desportivas com um caráter sagrado.
        "Os deuses, quaisquer que tenham sido as suas origens longínquas, nada mais são do que seres humanos, maiores, mais fortes, mais belos, eternamente jovens; adquiriram não só a forma humana, mas também os sentimentos, as paixões, os defeitos e até os vícios dos homens; o mundo divino apresenta, portanto, uma imagem engrandecida, mas não depurada da humanidade."
                                                           (A. Jardé, A GRÉCIA ANTIGA E A VIDA GREGA, 1977)

 
 
Os Jogos Olímpicos

          Os Jogos Olímpicos, em honra de Zeus, eram as festividades pan-helénicas mais famosas. Iniciados em 776 a. C., no santuário de Olímpia, realizavam-se de quatro em quatro anos com a duração de cinco dias. As provas desportivas distribuíam-se por várias modalidades, tais como corridas de carros, de cavalos, atletismo, salto, luta, o lançamento do disco, do dardo e pentatlo (conjunto de cinco provas). Os atletas competiam pela honra e glória, por isso os vencedores recebiam apenas uma coroa de oliveira ou de louro e eram considerados heróis.
         Durante estes cinco dias eram declaradas tréguas sagradas e todas as guerras se interrompiam.


O oráculo de Delfos

          Em Delfos, num lugar selvagem e rochoso, erguia-se um magnífico santuário consagrado a Apolo, o deus do Sol e das artes. De quatro em quatro anos, celebravam-se lá os Jogos Píticos (concursos de atletismo, de música e de poesia), que atraíam numeroso público.
         Mas o santuário era sobretudo visitado por aqueles que desejavam consultar a sacerdotisa Pítia, a fim de ouvirem, transmitido pela sua boca, o oráculo divino, isto é, a resposta do deus às suas interrogações sobre o futuro. Os oráculos da Pítia eram sempre ambíguos, com duplos sentidos... para não falharem.
        Eis um exemplo: conta o historiador Heródoto, que Creso, um rico monarca da Asia Menor, pretendendo declarar guerra ao grande rei dos Persas, mandou um enviado consultar a Pítia sobre o seu projeto. A sacerdotisa pronunciou o seguinte oráculo: Se Creso entrar em guerra, destruirá um grande império. Confiante, Creso invadiu a Pérsia mas foi vencido e feito prisioneiro. Depois de libertado, enviou de novo um mensageiro a Delfos, para se queixar de que Apolo o enganara, ao que a Pítia respondeu: “Creso não tem razão. Deveria ter perguntado ao deus que império seria destruído: o seu ou o dos Persas. 

Onphalos – Esta obra significava centro do Mundo - que seria o santuário de Apolo em Delfos
Desde o século VII a.C, que o Oráculo de Delfos se tornou o centro da vida da Grécia, com prerrogativas de grande significado religioso, moral e político: prescrevia aos homicidas as purificações a efectuar; reconhecia as novas divindades e cultos; aprovava as constituições das novas cidades e indicava os locais onde deviam ser fundadas; aconselhava reis e governantes.
           Os próprios filósofos aceitavam a autoridade do Oráculo.
           Delfos, embora não fosse centro geográfico do mundo (o omphalos - umbigo), como acreditavam os Gregos, era-o, no entanto, no domínio religioso, moral e político.

 

 
   

As Panateneias
  A festa anual desse nome durava dois dias, mas de quatro em quatro anos era celebrada com solenidade, durante pelo menos quatro dias (...). A grande procissão (...) atravessava o centro de Atenas (...) os sacerdotes e todos os corpos da cidade, incluindo os representantes dos metecos, formavam um longo cortejo (...). Uma vez chegados à acrópole, sacrificavam (…) em frente ao Pártenon, (...) tantas vacas quantas fossem necessárias para alimentar toda a gente da cidade (…)                                                    Roberto Flacelière.


 
 
 

ARTE - Pintura


A Pintura
Ânforas áticas proto geométricas.
Data: -1100/-1000 a.C.. Atenas

  A pintura grega encontrou uma forma de realização na arte da cerâmica. Os vasos gregos são conhecidos não só pelo equilíbrio das suas formas, mas também pela harmonia entre o desenho, as cores e o espaço utilizado para a ornamentação.   Inicialmente, os desenhos eram simplesmente formas geométricas elementares – daí a denominação de geométrico conferida a este primeiro período (séculos IX e VIII a.C.) – que mal se destacavam na superfície. Com o passar do tempo, foram-se gradualmente enriquecendo e ganhando volume. Surgiram então os primeiros desenhos de plantas e animais guarnecidos pelos chamados meandros.
Geométrico Recente

Na etapa seguinte, já no período arcaico (séculos VII e VI a.C.), começou a ser incluída nos desenhos a figura humana, embora com um grafismo muito estilizado. E, com o aparecimento das novas tendências naturalistas, esta passou a ser cada vez mais utilizada nas representações mitológicas. As cenas eram apresentadas em faixas horizontais paralelas que podiam ser visualizadas ao girar a peça de cerâmica. Com a substituição do cinzel pelo pincel, os traçados tornaram-se mais precisos e ricos em detalhes.



Gineceu

        Fase arcaica (finais do séc. VII até cerca de 480 a.C.) - Fase marcada pelo aparecimento da cerâmica decorada com a técnica das figuras pintadas a negro.   Sobre o fundo vermelho do barro destacam-se os elementos figurativos, representados como silhuetas estilizadas á maneira antiga (lei da frontalidade - rosto e pernas de perfil, olho e tronco de frente e ancas a três quartos) e a técnica da incisão continua em uso, permitindo pormenorizar o interior das figuras, agora enriquecidas com linhas de contorno dos músculos e outros pormenores como a barba, o cabelo e até o padrão do vestuário.  

       Com todas estas preocupações e inovações, torna-se notório o maior rigor aplicado às figuras, que lhes imprime um grande realismo e expressividade. Para além dos relatos mitológicos passam a ser representadas cenas da vida familiar e do quotidiano.

    Áiax e Aquiles jogando
        Figuras vermelhas
       Por volta de -530, o Pintor de Andócides (c. -530/-515), um dos mestres do estilo de figuras negras, inventou uma nova técnica decorativa, a de figuras vermelhas, que em poucos anos se iria tornar ainda mais popular e difundida que a de figuras negras


Pintura arcaica em painéis
         Chegaram até nós pouquíssimos exemplares da pintura monumental arcaica que, além de paredes, eventualmente também decorava painéis de madeira e/ou de terracota. Nenhuma delas, infelizmente, parece de primeira linha.

Procissão sacrificial
         É difícil sistematizar o estilo da época com base em algumas poucas peças, mas de modo geral pode-se dizer que as imagens tinham apenas duas dimensões e pareciam ampliações das cenas de vasos de figuras negras dos séculos VII e VI a.C..
       Muito esquemáticas, as cenas caracterizam-se pela composição simples, pela pouca importância dada à perspectiva e pelo uso de poucas cores.
 
 
O Vaso Pronomos
 
 
O vaso Pronomos

       

        O vaso Pronomos é uma cratera de volutas de grandes dimensões (75 cm de altura, 33,5 de diâmetro na parte mais larga), encontrado em Ruvo di Puglia, na Magna Grécia, Itália, em 1839.

qEstilisticamente, pertence ao “estilo” das figuras vermelhas e foi executado numa oficina ática, por um artista conhecido por “pintor de Pronomos”. A peça foi coberta a verniz preto, de onde ressaltam os motivos decorativos na cor natural da argila ou a branco, com os pormenores anotados a negro.
qA decoração concentra-se no gargalo, nas asas em forma de volutas e no bojo.

qAs duas primeiras contêm motivos naturalistas estilizados, organizados em frisos separados por linhas ou faixas horizontais.

qO bojo recebe uma rica decoração figurativa, organizada em dois registos paralelos que contêm atores de teatro preparando-se para entrar em cena perante os olhares dos deuses Dioniso e Ariadne

qA importância do vaso Pronomos reside no seu valor documental. Ele comemora, como num manifesto, os membros de uma companhia teatral, colocando-os em paralelo com Dionísio. Para além disso, contém numerosa informação sobre os atores, suas vestes e máscaras, e sobre os músicos que os acompanhavam.



domingo, 21 de outubro de 2012

ARTE - A arquitetura



 
A arquitetura

          O período considerado mais importante da cultura e da arte gregas ter-se-á desenvolvido entre os séculos VII a.C. e IV a.C.
          A arquitetura era fundamentalmente religiosa, com templos construidos com grande rigor no que se refere às dimensões, estabelecendo proporções matematicamente precisas. Os templos são construídos de pedra (mármore).
          O Pártenon — templo dedicado à deusa Atena , na acrópole de Atenas — erguido entre 447 a.C. e 438 a.C., durante o governo de Péricles, é uma das mais conhecidas e admiradas construções do período. Um traço marcante da arquitetura grega é o uso de colunas estabelecendo “ordens” características: a dórica, a jónica e a coríntia . A arquitetura clássica tem como princípios a racionalidade, a ordem, a beleza e o equilibrio.
 
 




Cálculos matemáticos e correções áticas aplicados aos templos gregos:

        O templo grego foi matemática e geometricamente calculado, de modo que cada elemento estivesse em perfeita harmonia com os outros e estes com o todo que era a obra.
        Estas proporções definiam-se a partir de uma unidade-base de medida — o módulo —, determinada, geralmente, a partir do raio médio da coluna.
        O rigor dos arquitetos chegou ao extremo de prever os desvios óticos que estas formas poderiam causar quando observadas a olho desarmado e a curta distância. Assim, nas indicações que davam aos construtores incluíam correções a essas deformações, conforme se pode perceber no desenho.
        A estas correções dá-se o nome de Entasis.








                 As três ordens arquitectónicas
 
        Ordem dórica - Nasceu na Grécia Continental por volta de em 600 a.C.; possui formas geométricas e a sua decoração é quase inexistente; não tem qualquer tipo de base, assenta diretamente no estilóbato (último degrau, superior, onde assenta o edifício); apresenta um aspeto sóbrio, pesado e maciço, traduzindo assim a forma do homem; o fuste é robusto e com caneluras em aresta viva e capitel formado pelo ábaco e equino ou coxim, extremamente simples e geométrico, com forma de almofada. Simboliza a imponência e a solidez.

        Ordem jónica - Nasceu na Jónia no séc. VI a.C.; difere da ordem anterior nas proporções de todos os elementos e na decoração mais abundante da coluna e do entablamento e pela coluna assentar numa base; pelas suas dimensões e formas mais esbeltas, traduz a forma da mulher; possui um fuste mais longo e delgado, com caneluras semicilíndricas, sem arestas vivas, e em maior número que na ordem dórica; o capitel possuía um ábaco simples e o equino em forma de volutas enroladas em espiral;
 
 
 
 
        Ordem coríntia - Apenas apareceu no final do séc. V a.C. e é uma derivação da ordem jónica, resultado do seu enriquecimento decorativo; possuía um capitel com forma de sino invertido, decorado com folhas de acanto, coroadas por volutas jónicas; a sua base era mais trabalhada e o fuste mais delgado; simboliza a ambição, a riqueza, o poder, o luxo e a ostentação;
 
 
O Pártenon
 
          Na conceção do Pártenon projeta-se o ideal grego de beleza e perfeição, numa composição arquitetónica que combina a “ordem formal tripartida” (envasamento, coluna e entablamento; estilóbato, fuste e capitel; arquitrave, friso e cornija) com um sistema de proporção racional (4:9).
          O Pártenon é um templo períptero, isto é, de planta retangular e com colunas a toda a volta (peristilo), composto por uma nave central que inclui o pronaos, a cella ou o naos e o opisthodomos. O peristilo tem proporção clássica de 8 x 17 colunas dóricas, sustentando um entablamento sobre o qual assenta um telhado de duas águas.
          As fachadas são rematadas com frontões decorados com motivos escultóricos e as 92 métopas do friso dórico apresentam cenas de gigantomaquia (combate mitológico dos deuses contra os gigantes), centauromaquia (combate mitológico contra os Centauros), amazonomaquia (combate mitológico contra as Amazonas) e da Guerra de Tróia.
          Toda a decoração escultórica esteve a cargo de Fídias e da sua escola.
        O Pártenon é uma obra invulgar pois, tratando-se de um templo dórico, apresenta um conjunto de aspetos estruturais e decorativos que o distinguem de qualquer outro templo conhecido:
  •         a ordem das colunas é dórica (como se comprova pelo capitel formado por ábaco e coxim e pela ausência de base e plinto), mas é um templo octástilo (tem oito colunas na fachada) como os templos jónicos, em vez das habituais seis colunas dos templos dóricos;
  • os tríglifos não coincidem com o eixo das colunas, como é normal na ordem dórica;
  • a planta integra uma cella dividida por uma colunata em forma de U, onde se abrigava a estátua da deusa Atena, atrás da qual há um recinto maior do que o habitual para um opisthodomos (sala de oferendas);
  • a decoração apresenta relevos nos frontões triangulares e nas métopas, e as paredes exteriores da cella estão revestidas por um grande friso jónico, representando a Procissão das Panateneias.
          Os gregos não aplicavam argamassa – a técnica mural baseava-se na justaposição dos blocos de pedra, perfeitamente proporcionados e colados por “gatos” de metal.
          Para a sua construção foram utilizadas 22 mil toneladas de mármore pentélico 
 



 
 Templo de Atena Niké
        O templo de Atena Niké ou Niké Áptera (que significa vitória sem asas) é um hino à deusa Niké e à feminilidade que a ordem jónica representa. Construído em mármore pantélico.É um templo jónico anfipróstilo, pois possui quatro colunas nas fachadas principal e posterior, que se destaca pela extrema simplicidade.
 A decoração, de autoria de Agorácrito, concentra-se nos elegantes capitéis de volutas enroladas, no friso contínuo (com cerca de 30 metros de perimetro) e nos tímpanos dos frontões.
       

        O friso contém, a leste, os deuses do Olimpo que seguem as batalhas dos cavaleiros Gregos e Persas; nos outros lados, estão representadas lutas entre hoplitas (soldados) gregos e persas.
        Nos tímpanos dos frontões, a decoração apresenta uma temática diferente: a dos gigantes, a este, e a das amazonas, a oeste.
        Por se encontrar junto a um precipício, este templo estava rodeado por uma balaustrada de 1,05m de altura, decorada por uma série de vitórias aladas (nikái), em atitudes graciosas e de grande finura de proporções, erguendo troféus e celebrando sacrifícios.

        Devido ao reduzido espaço para a sua construção, o templo continha apenas uma pequena cella, sem opistódomos.

 

O Erectéion
 
        Templo jónico, erigido na zona setentrional do Pártenon, construído no século V a. C., cuja autoria é atribuída a Mnésicles. À semelhança dos Propileus, do mesmo arquiteto, está perfeitamente implantado sobre um terreno bastante irregular.
        O seu nome vem da palavra Erecteu, mítico rei de Atenas e a sua cella oriental, dedicada à deusa Atena, foi colocada no sítio onde, segundo a mitologia grega, Atena teve um desentendimento com Poseidon.
         Erigido num local sagrado associado à fundação da cidade de Atenas, este templo veio a assumir várias funções religiosas.
         A cella deveria ter três ou quatro compartimentos e uma sala subterrânea. No lugar da fachada ocidental apresentam-se dois pórticos, um virado a norte e outro virado a sul - o Varandim das Cariátides - aberto para o Pártenon. O pórtico recebeu este nome porque o seu entablamento é suportado por figuras femininas que desempenham a função tradicional das colunas.
         A decoração do templo não se resumia às cariátides, existindo ainda um friso decorado, do qual pouco resta. Os capitéis e bases das colunas continham uma rica ornamentação e ainda hoje é considerado um dos templos jónicos mais elaborados e dispendiosos da Acrópole.