Meus meninos:
Já aqui está a proposta de correção do teste.
http://www.slideshare.net/slideshow/embed_code/23703951
http://www.slideshare.net/teresagoncalves/exame-mod-5-1-tm-critrios
Arte em ação - HCA
domingo, 30 de junho de 2013
segunda-feira, 18 de março de 2013
Proposta de correção da prova de recuperação do módulo 4
proposta de correção do teste do módulo IV
Proposta de correção de teste de anos anteriores
Caso prático inicial: a Cidade – “Ville en extension”
proposta de correção do teste do módulo IV
Proposta de correção de teste de anos anteriores
Caso prático inicial: a Cidade – “Ville en extension”
As
intervenções plásticas da estação de
metro do Rato, em Lisboa, aberta ao público em 1997, são da autoria de Vieira
da Silva (de 1970) e Arpad Szènés, em transposição para
azulejo por Manuel Cargaleiro.
“Ville en Extension” ou “Cidade em
crescimento“: a cidade é, sempre, um crescimento de gentes, de habitações, de
equipamentos, de espetáculos,…
Ao redor do século XII os campos viram
crescer, dentro e fora das muralhas, as concentrações humanas, habitacionais e
oficinais chamadas "cidade". Nelas tudo cresceu na diferença
económica e social e na afirmação política e lúdica.
Esta composição de Maria Helena Vieira da
Silva, sugestionada pelo poder gráfico da azulejaria, tão própria de Lisboa -
entendida como “cidade-azulejo”, - ilustra, sobretudo, o conceito de
cidade-rede, de intrincadas imbricações, na sua densa ortogonalidade.
Cidade-malha, espessa de vida que se “sente”, pulsando por artérias e praças
(cheios e vazios), que alastra “em extensão” e que, simbolicamente, se duplica
nessa outra cidade-malha, subterrânea, que a rede do metropolitano configura.
“Ville en Extension”, de Vieira da Silva,
de 1970, transposta para azulejo por Manuel Cargaleiro.
Nova
conjuntura económica da Europa Cristã do século XII ao XIII
|
Um dos
aspetos essenciais do grande progresso do Ocidente após o ano Mil é o
desenvolvimento urbano, que atinge o seu apogeu no século XIII.
A cidade
modifica o Homem medieval. Restringe o seu círculo familiar, mas alarga a rede
de comunidades em que ele participa; no centro das suas preocupações materiais
coloca o dinheiro (...). Na cidade o dinheiro é rei. A mentalidade dominante é
a mentalidade mercantil, a mentalidade do lucro. (...). Se consegue vencer na
vida não se envergonha, porque na cidade o trabalho é apreciado (...) a riqueza
obtida por processos honestos é louvada.
Jacques Ie Goff, O Homem Medieval, Presença
Jacques Ie Goff, O Homem Medieval, Presença
Nos séculos XII e XIII a
Europa conheceu um período de ressurgimento económico. Para este ressurgimento
da economia contribuíram um conjunto de fatores, tais como: a melhoria das condições
climáticas, o clima de paz e os progressos técnicos na agricultura e nos
transportes.
A agricultura tornou-se
mais produtiva, as pessoas passaram a alimentar-se melhor e, como consequência,
houve um aumento da população. Este aumento demográfico obrigou à ocupação de
novos espaços e conquista de novos territórios. O próprio movimento das
Cruzadas é por vezes explicado neste contexto de expansão do território.
Neste período verificou-se
um ressurgimento do comércio e das cidades, assim como das atividades artesanais. A paz que se vivia na Europa e os
progressos nos transportes facilitaram as trocas entre cidades e permitiram a
realização de feiras. O desenvolvimento do comércio monetário e dos mercados e feiras, conduziu ao aparecimento de atividades ligadas às finanças e a desestruturação do antigo sistema feudo-senhorial dos séculos anteriores, levando ao desenvolvimento da
burguesia - os burgueses são os habitantes do burgo, livres das redes pessoais feudais. Eram artesãos, mercadores, lojistas, letrados.
Dá-se o aumento das escolas e o nascimento das Universidades – a
nova mentalidade laica/não religiosa e individualista dos negócios e do lucro
necessita de novos saberes, de um conhecimento mais profundo e pragmático das
artes - trivium e quadrivium, que suplantam os saberes dos mosteiros e das suas escolas
monacais ou monásticas.
As universidades, marcadas pela filosofia escolástica – ora de
tendência idealista e mística, ora racional e naturalista – esta última
liderada por S. Tomás de Aquino, que
tentava conciliar fé e razão, defendendo que a verdade teológica se podia
alcançar através da razão.
S. Tomás de Aquino
|
A Cultura cortesã
Politicamente,
verificou-se a progressiva centralização do poder real e o consequente
enfraquecimento do sistema senhorial ou feudal.
Os reis vão agora rodear-se de uma corte de
nobres, eclesiásticos e grandes burgueses, apreciadoras de um novo estilo de
vida mais cortesão e pacífico onde o luxo e a ostentação se começaram a
instalar, valorizando-se a cultura e as boas maneiras, desenvolvendo-se um
certo mecenatismo cultural e artístico.
Atividades culturais das Cortes europeias
da Baixa Idade Média - séculos XII-XV: Caçadas, jogos, torneios, literatura, música, dança,
teatro, festas, saraus…
Assim, fruto da paz e da prosperidade económica, a época gótica foi também época de suavização dos costumes e da mentalidade, facto para o qual a Igreja muito contribuiu, instituindo um novo código de cavalaria, que fazia do guerreiro um paladino da paz e da justiça, em nome de Deus.
Nobres e eclesiásticos cultivaram o conforto e o luxo (na habitação, no vestuário e na mesa) a par do prazer e da diversão. Estes compunham-se quer de jogos guerreiros, como justas, torneios e caçadas onde, em tempo de paz, se exercitava a mestria física, quer de saraus palacianos constituídos por banquetes, bailes, declamação de poesia, sempre acompanhadas por música e representações teatrais de carácter religioso ou laico, postas em cena por atores ambulantes ou estudantes
e confrades que, com o tempo, foram formando as primeiras companhias
profissionais.
Estas práticas tiveram um importante papel
cultural, doutrinal e pedagógico. Por um
lado, incentivaram os artistas criando, inclusive, as primeiras práticas de mecenato. Por outro, a assistência a estes saraus foi um meio de desenvolver o intelecto e a mentalidade, facto comprovado no aumento do número de letrados e do
hábito da leitura individual, promovendo o aparecimento de novos géneros
literários, como os romances
de cavalaria, as narrativas de viagem e até o romance sentimental.
Nestes meios cortesãos — entre os quais se destacavam já, pela
pompa e brilho, as cortes régias — começaram a gerar-se novas negras sociais,
pautadas por uma
apresentação física mais cuidada e pela maior civilidade e cortesia no falar e
no agir.
— representações teatrais —
autos e entremeses;
— poesia trovadoresca — as
cantigas de amigo, de amor e de maldizer;
— textos em prosa — romances
de cavalaria.Jograis nas Cantigas de Afonso X, o Sábio |
Na Pintura a fresco de Domenico de Michelino, que se
encontra na Catedral de Florença, estão representados dois dos aspetos mais
importantes da vida de Dante: a forte ligação à sua cidade natal, Florença, e a
escrita da obra que o imortalizou - A Divina Comédia. A pintura
mostra, de facto, a concepção medieval do cosmos, baseada na omnipresença da religião, que
estrutura todo o seu poema.
O Gótico
O Gótico foi um estilo artístico que dominou a arte europeia entre os séculos XII e XV. Irradiou do norte de França e, embora se tenha desenvolvido nas várias artes (escultura, pintura, vitral, ourivesaria, etc.), permaneceu essencialmente ligado à arquitetura. Nasceu na Île-de-France, perto de Paris, pelas mãos de Suger, o Abade de Saint-Denis.
No século XII, este novo
estilo artístico, a que, mais tarde, os escritores do Renascimento chamaram de
gótico, porque o consideravam um estilo confuso, desorganizado, como próprio
dos godos — isto é, bárbaro — viria a difundir-se por toda a Europa.
No século XIX, investigadores
vieram demonstrar a originalidade e importância estética deste estilo arquitetónico.
nova
estética introduzida por essas inovações:
- Aumentou a altura das
abóbadas
- Pilares e colunelos
mais delgados
- Acentuação da
verticalidade
- Espaços internos mais amplos
- Paredes libertas do
seu papel de suporte, passando a delimitar e proteger espaços
- Interiores iluminados
(melhor aproveitamento da luz) devido aos vitrais
Catedral de Notre Dame de Amiens:
Fachada, cabeceira e portal:
A fachada de Amiens divide-se em cinco partes:
1.ª - os habituais
três portais no primeiro nível, mas aqui extremamente profundos;
2.ª - a primeira galeria;
3.ª - a galeria dos reis - figuras com 4,5m de
altura;
4.ª - a rosácea, com vitrais do século XVI;
5.ª - as torres, concluídas nos séculos XIV e XV.
Na catedral gótica a cabeceira
– área que inclui o coro, o altar-mor, a
abside, o deambulatório e os absidíolos ou capelas radiantes – tornou-se mais complexa, ocupando cerca de
um terço da área total da igreja. A de Amiens tem uma cabeceira com sete capelas radiantes/absidíolos.
O portal é uma
das componentes essenciais da catedral gótica: correspondendo à “Porta do Céu”,
a sua iconografia representa a glorificação de Cristo e Maria, aos quais se
juntam, por vezes, os Apóstolos e cenas do Juízo Final em figuras humanizadas e
expressivas. O portal de Amiens, extremamente decorado, é o expoente da escultura
gótica, sendo dedicado ao “Juízo Final”, a S. Firmino, primeiro bispo de Amiens
e à virgem Maria.
1.Capelas
radiantes;
2.Deambulatório;
3.Capela-mor
e Altar;
4.Coro;
5.Corredores
do coro;
6.Cruzeiro;
7.Transepto;
8.Contrafortes
ou Botaréus;
9.Nave
central;
10.Naves
laterais;
11.Portais.
A –
Nave central;
B –
Nave lateral;
C –
Pilar cruciforme;
D –
Arco quebrado ou ogival;
E –
Abóbada de cruzaria de ogivas;
F –
Fecho da abóbada;
G –
Contraforte ou botaréu;
H –
Arcobotante;
I –
Rosácea e janela com vitrais.
Diferenças
entre a escultura gótica e a românica
A escultura teve uma importância
excecional no exterior, desde os pórticos aos arcobotantes, cobrindo-se os capitéis
de folhagem cada vez mais naturalista. As figuras esculpidas são autênticas
estátuas, aproximando-se em proporções, gestos e atitudes do natural, representando
principalmente a Virgem, Jesus e cenas religiosas.
Os escultores góticos também
trabalharam o marfim, quer em objetos de caráter religioso, quer em objetos de carácter
profano
Relativamente ao Românico, a escultura gótica registou uma evolução, sobretudo
ao nível da composição, da expressividade, da monumentalidade das suas obras e
da progressiva aproximação ao real, assumindo um carácter mais naturalista e
desenvolvendo novas capacidades expressivas – para além da representação fiel
do corpo humano e do tratamento
naturalista das roupagens/vestes, que muitas vezes revelam as formas
anatómicas do corpo, o rosto humaniza-se, a cabeça inclina-se e os olhos ganham
vida, tudo em movimentos expressivos até então desconhecidos.
Ela autonomiza-se em relação à arquitetura, como demonstram as
esculturas de vulto redondo, as estátuas jacentes e os retratos, e ao
conquistar o seu próprio espaço ela atingiu uma concepção mais plástica, mais dinâmica e
“verdadeira”.
Uma das principais inovações relaciona-se com
a organização do portal da catedral: as ombreiras ou jambas são substituídas por estátuas-coluna
que se prolongam nas arquivoltas em torno do tímpano.
Tendo
conquistado o seu próprio espaço, a escultura atingiu uma concepção mais plástica, mais
dinâmica e «verdadeira». Uma das
obras paradigmáticas desta renovação é a Morte da Virgem, do tímpano da Catedral de Estrasburgo. Aqui, a dificuldade de
adaptação das figuras ao espaço arquitetónico, implicando
nalguns casos a representação parcial das figuras, é compensada pela delicadeza
com que os Apóstolos tocam o corpo da Virgem e pela emoção que se manifesta nos
seus rostos. Também a
forma como são tratados os cabelos e as pregas das roupas, evidenciando a
anatomia dos corpos, é inovadora e faz-nos lembrar a arte clássica.
A Anunciação e a Visitação, esculpidas nas jambas do pórtico ocidental da Catedral de Reims (...) libertaram-se da arquitetura para se converterem em esculturas de vulto redondo, firmemente apoiadas no solo, continuando um caminho iniciado em Chartres. Privilegiando uma aproximação ao mundo físico, as pregas da roupa deixam transparecer as anatomias que cobrem e, especialmente na Visitação, o escultor parece dominar completamente o modelo clássico.
Púlpito do batistério da catedral de Pisa,
1460, mármore,
4,65 m
|
A
Itália
Na escultura, as principais
alterações foram introduzidas por uma família de escultores de Pisa, Nicola Pisano (1220-1284) e seu filho Giovanni Pisano (1245-1314), nos
púlpitos que fizeram para as catedrais de Pisa, Siena e Florença, respetivamente.
Nessas obras, as figuras apresentam uma proporção
anatómica, e um perfeito
tratamento das vestes.
A composição ganha realismo
e expressividade pela
gradação de planos e interação dramática das personagens.
Púlpito da catedral de Siena |
A PINTURA GÓTICA
1. O Gótico
substituiu a pintura mural pela pintura sobre madeira – retábulos, painéis, quadros, etc. – e pelo vitral e revelou uma tendência para a representação naturalista.
2. Três
técnicas principais desenvolvidas pela pintura gótica.
As três técnicas principais da pintura gótica
foram o vitral – decoração transparente formada por fragmentos de vidro pintado,
fixados numa rede de chumbo –, o retábulo – composição que reveste a parede por detrás do altar, em madeira
(baixos-relevos, tronos, painéis, etc.) – e a iluminura – decoração pictórica de manuscritos pela têmpera (processo em que
os pigmentos são misturados com água, ovo e goma ou cola).
3. Consequências
da doutrina de S. Francisco de Assis nas artes plásticas.
Ao pregar a igualdade de todos perante Deus e
ao romper com as cadeias a que se prendiam os dogmas cristãos medievais, S. Francisco motivou um novo olhar sobre a Natureza, permitindo aos
artistas voltarem-se para o mundo físico e interessarem-se pela sua
representação exata e fiel.
4. Diferenças
que se verificaram na representação de Cristo com o Gótico.
Com o Gótico, Cristo deixa de ser a
imagem de um homem vivo, vestido e sem manifestar qualquer sensação de dor,
para ser a imagem humana de um Cristo padecente (sofredor), praticamente nu, de
corpo arqueado em sofrimento e que fecha os olhos em sinal de aceitação da morte.
O
vitral
O aparecimento do vitral está ligado à arte gótica, pois os painéis de vidrocolorido, que preenchiam janelas e rosáceas, substituíram as pinturas murais do Românico. A luz que entrava nas igrejas, filtrada pelos vitrais, propiciava um ambiente místico e celestial que traduzia fielmente o espírito religioso da época.
Os temas eram fundamentalmente religiosos, mas, tal como a escultura, associados a cenas dos ofícios (todas as profissões estavam aí representadas) e a cenas onde figuravam personagens reais, como reis, nobres e bispos - geralmente os que, com as suas doações, haviam financiado a produção dos painéis. Assim, os vitrais exerceram na arte gótica uma função, simultaneamente decorativa, doutrinal, simbólica e documental.
A Iluminura
Após o apogeu do
vitral a iluminura de manuscritos volta a assumir o papel principal na
representação pictórica que vinha já desde o românico, mas no seu repertório
formal passam-se a encontrar referências à arquitetura que até aqui eram muito
limitadas. Por um lado as figuras estão integradas num ambiente arquitetónico
de fundo onde são evidentes os traços do gótico, por outro lado as figuras
exibem um tratamento volumétrico com as mesmas expressões graciosas e posições
sinuosas da decoração escultórica da catedral. No entanto, a profundidade e a perspetiva são ainda muito básicos, em grande
parte pela contribuição dos contornos a negro das figuras que fazem lembrar as
uniões num vitral e que as remetem para um plano bidimensional.
Esta adopção dos
elementos do gótico dever-se-á em grande parte à transposição da produção da
iluminura dos mosteiros para as oficinas dos centros urbanos onde o gótico
habita. Na última metade do século XIV, a influência dos mestres italianos no
norte europeu é forte e a iluminura ganha uma estrutura espacial mais
harmoniosa.
Melchior
Broederlam - Retábulo para Felipe, o Atrevido
Pintor flamengo que
pertenceu ao gótico internacional. Refinado e subtil, influenciado por Jan van Eyck, as uas paisagens são espaçosas e amplas, em tons verdes e
castanhos, que contrastam com as figuras, vestidas em tons vermelhos e azuis.
Na pintura, as primeiras
inovações registaram-se num grupo de pintores da região da Toscana: Cimabue (1240-1302) e Duccio di Buoninsegna (1255-1318/19)
que iniciariam essa renovação; e Giotto di Bondoni (1267-1337)
que lhe deu plena expressão
Estes pintores toscanos, principalmente Giotto, cortaram com a
tradição bizantina, procurando o naturalismo pela racionalização da
representação, sempre enquadrada em cenários naturais ou arquitetónicos, ainda que ingenuamente captados.
Outras inovações: individualização
dos rostos, das posturas e dos gestos e, principalmente, da massa volumétrica transmitida aos
corpos pelo melhor tratamento
do claro-escuro.
Cimabue, Maestà (Maria
em Majestade, com o Menino ao colo e rodeada de anjos) na
Galeria dos Ofícios
Embora ainda sejam nítidas as influências bizantinas, já é dotada de doçura e serenidade. Além
disso, o pormenor das vestes e uma modesta – mas evidente – utilização da
perspetiva no Trono de Nossa Senhora sinalizavam uma nova expressão pictórica.
Duccio di Buoninsegna - Explorou melhor a perspetiva, desenvolvendo, de modo esplêndido,
tanto a tridimensionalidade como a Volumetria e iniciando
uma pequena revolução nestes domínios, de que é prova sua Maestà,
pintada para a
Catedral de Siena.
A
Flandres
Na região dos Países
Baixos, principalmente na zona da Flandres também em franco desenvolvimento
económico e social em finais da Idade Média, se verificou o florescimento da
arte, sobretudo da pintura - no primeiro quartel do século XV.
A pintura flamenga (da Flandres), ligada ao
espirito do Gótico final no gosto pelo colorido vibrante, pelos dourados dos
retábulos e ainda pelo simbolismo religioso foi todavia inovadora a vários
níveis:
• na
invenção da pintura a óleo, que
daqui irradiou para Veneza e outras cidades italianas (segunda metade do século
XV) e, depois, para o resto da Europa. Segundo se pensa, os irmãos Van Eyck, Hubert e Jan, teriam sido dos primeiros a utilizá-la;
• no interesse pela realidade quotidiana, patente na
pormenorização dos cenários naturais ou de interior e das vestes, penteados,
objetos...;
• na
prática do retrato,
fruto do individualismo burguês dos flamengos.
Assim, por via do empirismo e do
interesse pelo quotidiano vivido, os pintores flamengos atingiram objetivos
idênticos àqueles que os pintores italianos procuraram pela via do racionalismo
técnico.
Os melhores representantes desta pintura foram
Rober Campin, conhecido por Mestre de Flêmalle (1378-1444), os irmãos Van Eyck, Rogier van der Weyden (1400-1464) e Hugo van der Goes, entre outros.
Rogier van der Weyden, Descida da Cruz, 1436
Jan Van Eyck, O casamento dos Arnolfini, 1434
Alegoria do Bom Governo. Efeitos do Bom Governo na Cidade, 1337 - 1340, de Ambrogio Lorenzetti (c. 1290 - 1348), Siena, Palácio Público, Sala dos Nove, Siena.
O que
interessa saber:
• Como se caracteriza, técnica e esteticamente, a linguagem
artística desta composição?
Esta obra insere-se na tradição pictórica da Escola
da Toscânia, a que pertenciam Giotto e Duccio, de que Lorenzetti colheu ensinamentos, apesentando uma linguagem técnica
que busca a verosimilhança, procurando retratar com exatidão a cidade e as suas
gentes nos seus afazeres.
• Como é a cidade que nela se representa?
Siena era uma cidade tipicamente medieval, com o seu denso casario
dentro de muralhas, ponteadas de portas, abertas para o campo circundante,
verosímil no seu cenário e nas suas personagens
• Que objetivos, ou intenções, terão presidido à encomenda
desta obra? Porquê?
Esta obra, encomendada pelos governantes da cidade - a burguesia
comercial e financeira, o Conselho dos nove – pretendeu promover a sua governação, conseguida à custa
da revolução comunal com que expulsaram os nobres da cidade.
Ela passa-nos uma
mensagem de reflexão política, mostrando-nos os efeitos de uma boa governação.
A cidade transforma-se, assim, no espelho do seu governo.
O
Gótico em Portugal
O gótico desenvolveu-se tardiamente em Portugal devido às guerras
da Reconquista e da independência, assim como pela forte implantação do
românico no Norte do País, região mais cedo estabilizada. Ao contrário do que
acontecera na restante Europa, em que se caracterizou por ser uma arte
essencialmente urbana e de catedrais, no nosso país foi mais rural e de
mosteiros.
A arte renascentista teve o seu maior desenvolvimento cm Itália. Em
outros países europeus, como Portugal, os séculos XV e XVI ficaram marcados,
sobretudo, pela permanência de formas e modelos da arte gótica.
A maior concentração de arte gótica em Portugal situa-se em
Santarém, com o Convento de S. Francisco, igrejas de Sta. Clara e da Graça,
entre outras. O Mosteiro da Batalha e o Mosteiro de Alcobaça são considerados
os monumentos mais notáveis do Gótico português, ambos classificados como
património mundial, inserindo-se o primeiro no gótico flamejante.
O gótico português está também representado nos elementos
decorativos e nas pedras tumulares. Os túmulos de D. Pedro e de D. Inês de
Castro, em Alcobaça, e de D. Filipa de Lencastre, na Batalha, destacam-se como
belos exemplares do Gótico europeu.
Túmulo de D. Pedro, em Alcobaça
|
Túmulo de D. Inês de Castro, em Alcobaça |
O Manuelino
No reinado de D. Manuel
I desenvolveu-se em Portugal um tipo de decoração arquitetónica que ficou
conhecido por arte
manuelina. Trata-se de um estilo
decorativo aplicado a edifícios de estrutura gótica.
Os elementos decorativos
mais utilizados no Manuelino são:
— naturalistas —
raízes, troncos, folhagens;
— marítimos —
boias, redes, conchas, barcos, cordas;
— símbolos nacionais — a esfera armilar, a cruz da Ordem de Cristo e o escudo
real.
Os principais edifícios
do Manuelino são o Mosteiro
dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa,
parte do Convento
de Cristo, em Tomar, e o Convento de jesus, em Setúbal. Existem muitos mais, sobretudo portais de igrejas, como
as de Freixo de Espada à Cinta, Caminha, Zurara, etc.
Igreja da Conceiçao Velha, Lisboa |
A Peste Negra
A Peste Negra foi uma epidemia
mortífera que grassou na Europa em meados do século XIV.
Surgiu na China, em 1340. Em 1346,
seguiu a rota da seda e chegou à Península da Crimeia (no Mar Negro). Foi daí
que os genoveses levaram a epidemia
nos seus navios para várias cidades do Mediterrâneo, espalhando-se depois por toda a
Europa e pelo Norte de África, semeando o pânico, o terror, a miséria e a
morte. Em Portugal, a peste entrou em 1348, no reinado de D. Afonso IV.
As suas principais consequências foram a elevada
mortalidade (terá eliminado entre um terço e metade da população europeia), o que
provocou desequilíbrios na cidade, no Estado, nas fronteiras sociais e implicou
a transferência de populações entre aldeias e regiões, modificando os circuitos
comerciais e criando novos-ricos, e o medo e desespero profundos entre as populações.
O século XIV europeu foi
dominado pela chamada "trilogia negra", ou seja, a atuação conjunta
de três factores, fomes, pestes e guerras, que inverteram a tendência de crescimento vinda dos
tempos anteriores e provocaram uma taxa de mortalidade elevadíssima e a
estagnação na economia.
De facto, o forte crescimento demográfico dos séculos XII e XIII
sofre um retrocesso devido aos maus anos agrícolas no início do XIV,
generalizando a fome e a mortalidade; os organismos debilitados pela má
nutrição e as condições de higiene da época facilitam a propagação de doenças e
a ocorrência de mais mortes. A peste que atingiu a Europa entre 1347 e 1350,
embora com diferenças regionais, provocou a morte a mais de 1/3 dos seus
habitantes e instalou um clima de desespero coletivo.
Ao nível das mentalidades e dos
comportamentos coletivos, esta crise, e em particular a Peste Negra (que se
pensava ser um castigo de Deus devido aos pecados dos Homens), instalaram um
ambiente de incerteza, insegurança e angústia face à inevitabilidade da morte
através do reforço da religiosidade e devoção populares:
Øpráticas coletivas de penitência, as chamadas procissões dos
flagelantes;
Øexaltação dos bens materiais, estimulando o gosto pelo luxo e
festividades;
Øna literatura, a proliferação dos chamados Ars Moriendi [Arte de Morrer], ou seja, tratados que
ensinavam a bem morrer;
Øna música é muito divulgado o hino Dies Irae [A Ira de Deus], composto na 2.ª metade do século XIII, associado
às missas dos defuntos;
Ønas artes, a chamada arte macabra, na qual a morte de Cristo e a
descida ao túmulo são temas constantes, além das xilogravuras que representam a
morte armada de gadanha, o cadáver comido pelos vermes e as danças macabras, e
na pintura a fresco o triunfo da morte sobre todos, independentemente do
estatuto social de cada um.
Procissão de flagelantes - Livro de Horas do duque de Berry
Estátuas jacentes nos túmulos de Ricardo Coração de Leão e
sua esposa, Isabel de Angoulême, na igreja abacial de Fontevraud, 1200-1260.
|
O Gótico - textos síntese
A arte
românica exprimira-se sobretudo na igreja e através das ordens monásticas,
particularmente a Ordem Cluniacense que não deixou de crescer e representou,
nos sécs. X e XI, os valores espirituais e o motor próprio de uma sociedade de
características feudais. A partir do séc. XII, e com o renascimento das
cidades, a eclosão gótica manifestou-se desde logo na catedral, igreja urbana e
sede do bispo, que, assim, se autonomizava em relação ao poder do rei de quem
dependeu ao longo de séculos. Coube ao monge cluniacense Suger, abade de
Saint-Denis, amigo do rei e quase tão poderoso quanto ele, desencadear um
movimento de grande amplitude pela nova conceção da sua igreja, resplandecente
e sublime. Este novo espírito de igreja urbana opunha-se, contudo, ao do monge
S. Bernardo, outra figura emblemática da primeira metade do séc. XII, que
insuflou um fervor religioso, austero e iconoclasta ao monaquismo cisterciense.
Mas, se Cluny se opôs a Cister, não podemos ignorar a importante contribuição
desta última para a difusão do modo gótico na Europa; o gótico cisterciense
preferiu as formas mais simples, a ornamentação moderada e abstrata.
O
desenvolvimento das cidades, do comércio, das indústrias artesanais e da
economia favoreceu a eclosão de uma arquitetura urbana e de uma arte privada. A
catedral é, para além da ousadia técnica e empreendedora do homem medieval, o
esforço supremo de uma sociedade em busca de Deus. No séc. XII, o novo estilo
concretiza-se n’Ele. Por outro lado, a sociedade manifesta uma tendência para a
laicização e a consequente secularização com repercussões na representação
divina: mais humanizado, ao Cristo-Rei e Pantocrator majestático oriental,
sucede o Cristo-Salvador do homem. As formas, as composições, os temas e as
características gerais a que devia obedecer a linguagem gótica eram
determinadas pelos teólogos da Igreja e concretizadas na catedral, no seu
espaço, nas suas esculturas, na sua ornamentação e nos seus vitrais.
Fundamentalmente, o Gótico considerava a arte como uma escrita sagrada que
devia obedecer aos valores canónicos da Igreja e a uma linguagem simbólica, que
conduzia à interpretação de verdades mais profundas.
Nas estátuas
de figuração humana conseguiram-se, provavelmente, as mais belas realizações. A
estatuária, desenvolvida desde logo como estátuas-coIuna, manifesta uma
tendência para se destacar da parede e conquistar uma autonomia que a aproxima
da estatuária antiga. A partir do séc. XIII, ela perde a sua rigidez, adquire
movimento e expressão. As vestes libertam-se do corpo e os rostos, tristes ou
alegres, apresentam-se personalizados. A escultura gótica desencadeou uma
renovação formal, plástica e estética muito significativa. Para além de se
aproximar de uma representação realista do corpo humano e do tratamento
naturalista das roupagens que muitas vezes revelam as formas anatómicas do
corpo — e, neste sentido, já distantes dos corpos diáfanos do Românico —, os
membros movimentam-se, a cabeça inclina-se, o rosto humaniza-se e os olhos
ganham vida, tudo em movimentos, gestos e impulsos expressivos até então
desconhecidos. A arte gótica atingiu resultados plásticos prenunciadores de uma
época de renovação estética, artística e cultural.
A catedral de Reims, em França,
1211 -1299. A evolução que nos conduz do românico ao gótico decorre de um problema
mais complexo que a simples distinção entre arcos: o arco de volta inteira e o
arco quebrado. A iluminação da nave, com implicações simbólicas e teológicas,
tornou-se na questão principal; a catedral, imagem do corpo de Cristo, deve ser
iluminada. Mas não se trata de uma luz banal e visível. A luz que irradia pelas
naves e na cabeceira deve ser à imagem da luz divina. Segundo o abade Suger, “Deus
é Luz e o interior da Sua igreja prefigura Jerusalém Celeste, cujas paredes (de
acordo com o texto do Apocalipse) são construídas de pedras preciosas”. Esta é
a função do vitral, deixar entrar a luz e, também, operar uma transmutação
revestindo-a de imagens magníficas e cores deslumbrantes, correspondentes às qualidades
da alma e das essências espirituais.
O modo gótico formula-se entre a depuração
formal imposta por S. Bernardo e a nova ordem estética implementada por Suger,
abade de Saint-Denis. Os cistercienses renunciam às formas escultóricas, à cor
e à representação das ideias, valorizando o ascetismo e a pureza formal que
devia incitar à harmonia e à contemplação do que é imutável e eterno. Os
cluniacenses orientaram-se para a sublimação dos sentidos, convertendo a casa
de Deus” num espaço magnânimo elevado para o Céu e aspirando à transcendência
da existência terrena. Fatores sociais e económicos (o ressurgimento das
cidades e o crescimento do comércio) converteram o gótico numa arte urbana e
expressão de uma cultura e de uma sociedade que descobria os prazeres mundanos,
os amores idílicos, a contemplação estética e a criação artística.
As inovações técnicas ficaram a dever-se
tanto à adoção do arco quebrado e à abóbada de cruzaria de ogivas como sistemas
construtivos, quanto ao espirito de rivalidade entre as cidades, que motivou os
arquitetos a ousar superar tudo o que até então tinha sido alcançado. O arco
quebrado e a abóbada de cruzaria de ogivas funcionam como um esqueleto de
pedra, podendo ser preenchidos com materiais leves, enquanto os seus impulsos
são descarregados nas nervuras e conduzidos aos pilares, aos arcobotantes e aos
contrafortes, que conduzem essas cargas ao solo.
A Catedral de Notre-Dame de Paris é um dos
primeiros exemplos da importância que os novos edifícios religiosos viriam a
ter no novo contexto social e cultural.
O traçado reflete a estrutura e as
disposições concebidas por Suger, bem como a aplicação dos conceitos de ordem
geométrica, harmónica e de proporção. A monumentalidade das suas dimensões, os
arcobotantes descarregando sobre os contrafortes, os janelões do clerestório, a
leveza da estrutura e a acentuada verticalidade tornam Notre-Dame numa
referência do Gótico Clássico. Quanto à fachada, com o portal e a grande rosácea
flanqueados por duas torres, encontra-se repleta de intervenções escultóricas,
quer decorativas quer figurativas, numa cumplicidade expressiva que marcou esta
linguagem.
A inovação mais significativa que a
escultura gótica apresentou relaciona-se com a organização do portal do templo.
A começar pelas ombreiras ou jambas, que são substituídas por estátuas-coluna,
prolongando-se nas arquivoltas em torno do tímpano e refletindo-se, igualmente,
nos temas e na iconografia que, se bem que continuando a encontrar a sua
inspiração no Novo Testamento, apresenta um tratamento das figuras mais
humanizado e expressivo. Os motivos de ordem religiosa representam Cenas
típicas de “Cristo em Majestade”, do “Juízo Final’ e da “Virgem em Majestade”,
aceitando também a inserção do santo patrono da igreja no tímpano inscrito numa
mandorla, no centro de cenas da sua vida e acompanhado pelos santos da diocese
nas obreiras ou nas estátuas-coluna.
Para além da arquitetura, as conquistas mais
significativas alcançadas pelo Gótico situam-se na escultura e na representação
da figura humana. A estatuária, começando por integrar-se na arquitetura como
estátuas-coluna nas jambas, apresenta uma tendência para se destacar do seu
suporte e conquistar uma autonomia que a aproxima da estatuária da Antiguidade.
Ela perde a sua rigidez e ganha expressão e movimento. As vestes libertam-se
dos corpos e os rostos apresentam-se tristes ou alegres, mas sempre
individualizados. A escultura gótica pode definir-se como um momento de
equilíbrio entre o carácter monumental e a observação naturalista, entre um
tratamento estilizado e a tendência para o realismo. Tendo conquistado o seu
espaço próprio, a escultura atingiu uma conceção mais plástica, mais dinâmica e
“autêntica”.
Partindo da maneira greca, Giotto rompeu com a tradição medieval da
representação, formulando uma nova linguagem plástica baseada na observação e
na “visão racional” e objetiva das coisas e da Natureza. Giotto foi pioneiro na
“conquista da realidade”, concebendo as cenas como uma “caixa espacial” e
antecipando, desta forma, o rigor geométrico da perspetiva renascentista. Por
outro lado, a modernidade da sua pintura revela-se na humanização das suas
figuras e na valorização plástica dos ambientes e dos elementos que o compõem.
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